junho 12th, 2012 |
Autor: kelma
Por trás dos olhos pequenos e castanhos e do sorriso meigo e
convidativo existe uma mulher que pega o megafone e sai às ruas,
comandando seus estudantes, todos sedentos por um mundo melhor. A
professora Rachel Duarte Abdala, do departamento de Ciências Sociais e
Letras da UNITAU, não se cala em face da injustiça. “Como diz o
provérbio chinês: antes de tentar mudar o mundo, dê três voltas ao redor
da sua casa”, lembra a docente.
Primogênita de uma família formada por um casal de professores e seus
quatro filhos, Rachel nasceu em Mogi das Cruzes, em junho de 1976. Veio
para Taubaté com nove anos e teve uma infância feliz, com muitas
brincadeiras e muita leitura. Estava longe de ser uma criança quieta,
mas tinha seus momentos privados na biblioteca. Lia de tudo, desde obras
infantis à literatura “pesada” – uma vez a mãe a flagrou aos prantos,
enquanto lia Ciranda de Pedra, de Lygia Fagundes Telles.
Foi aluna da Escola Estadual Monteiro Lobato, o Estadão, um dos
maiores vínculos de sua vida. Esteve à frente dos mutirões escolares,
das gincanas, dos concursos de xadrez. Sempre foi ativa. Continuou na
instituição até o fim do Magistério, e hoje coordena projetos na escola,
por meio de sua atuação no Pibid – Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência.
Quanto à carreira, sempre quis ser professora. Porém, aconselhada pela mãe e ludibriada pelo glamour
dos julgamentos em filmes hollywoodianos, ingressou na faculdade de
Ciências Jurídicas da UNITAU, em 1995. Logo no primeiro semestre de
aulas, sentiu que não estava no caminho certo – havia sido uma excelente
estudante durante toda a vida e, ali, as matérias não a convidavam a
mergulhar no estudo, como é de seu feitio.
Decidida a abandonar o curso, foi conversar com aquele que julga ser
seu herói. “Imagine você com seu poder de argumentação num tribunal”,
respondeu-lhe o pai. “Imagine-me dando aulas”, disse Rachel, com a
resposta na ponta da língua. E não teve jeito: no ano seguinte, foi para
São Paulo estudar História.
Começou a fazer Iniciação Científica no Instituto de Estudos
Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo (USP). Trabalhou com o
arquivo de Fernando de Azevedo, educador, jornalista e sociólogo que foi
um dos fundadores da instituição paulista. Descobriu-se, então, na arte
de ensinar. “Não adianta fugir do que é para ser da gente”.
Uma vez graduada, seguiu para o Mestrado em Educação e dedicou-se aos
estudos na área. “Eu acredito que História e Educação se fundem. Não
existe professor de história que não seja historiador e não existe
historiador que não seja professor de história”, considera.
Em 2003, com o título de Mestre, começou a lecionar na Universidade
de Taubaté. Foi efetivada em 2004, e, na mesma época, seu pai, professor
Johel Abdallah, tornou-se o chefe do departamento de Ciências Sociais e
Letras. No início, adotou uma postura séria no início, e foi até
considerada “brava”, por alguns alunos – tinha apenas 27 anos e temia
não ser respeitada pelos estudantes e pelos colegas de trabalho. “Era
difícil ser a ‘filha do chefe’, precisava provar que estava ali porque
era competente”, confessa.
A pose de durona não durou por muito tempo: logo se sentiu
confortável no cargo e ganhou o respeito dos universitários – não apenas
o respeito, mas também uma relação de amizade. Começou a promover
viagens de campo, visitas a congressos, tratava os estudantes com toda a
atenção que pudesse canalizar e com toda a intensidade necessária. “Já
levei alunos para Londrina, Porto Alegre, Florianópolis, São João del
Rei, Rio de Janeiro e, no ano passado, realizamos o sonho de conhecer
Ouro Preto. Isso tudo é muito gratificante”, diz a professora, com
orgulho em cada palavra.
Participou de duas edições do Projeto Rondon, foi a coordenadora de
estudantes na missão a Jauru – MT, em 2011, e a Cariri – MA, neste ano.
O que a mantém com os pés no chão são os genes maternos. Mas o grande
exemplo da sua vida é o pai, em quem se espelha, de quem herdou o
espírito visionário e poético. Compara a sua família com a da obra O Feijão e o Sonho, de Orígenes Lessa – pai sonhador, mãe batalhadora. Mora perto e costuma almoçar na casa deles.
Em 2005, integrou-se à Pró-reitoria de Extensão da Universidade,
começou a organizar o maior evento científico da Instituição – o
Encontro de Iniciação Científica (ENIC). É responsável por dezenas de
monitores, que são graduandos de diferentes cursos da UNITAU. Em uma das
edições do evento, Rachel encontrou-se com a professora Ebe Camargo,
que lhe questionou sobre ter filhos. “Você seria uma boa mãe”, disse.
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